19 de novembro de 2008

Livia parte 2


[...]"Ao chegar em casa, lembra do versículo "O Espírito do Senhor fala por intermédio, e a Sua palavra esta na minha língua" (II Sam. 23:2).Passa o batom vermelho, põe sua menor saia, e seu menor top, e sai para trabalhar"[...]

Não sou uma mulher incrível, mas extremamente aventureira. Tomei um taxi na porta de casa, parei dois quarteirões antes do meu local de trabalho, para sentir o clima daquela noite, os transeuntes e até o próprio vento quente de uma noite que chamava o verão. A cada psiu, chamado ou buzinada sentia o arrepio subindo em minha espinha e inconscientemente rebolava ainda mais em meu caminhar. Ao chegar e cumprimentei Suelen e Melissa, gêmeas chinesas que só atuavam juntas. Uma forma de cumplicidade, de proteção, que culminava no fetiche de tantos homens. Observo o movimento dos carros que lentamente passam olhando como estivéssemos em vitrines, tal qual produto que ao gostar paga-se o preço e leva. Sempre fui perversa, escolho meus clientes a dedo, embora responda a todos que a procuram. Assim, estabeleci como meta um preço para cada comprador. Àqueles que não interessava o preço era alto, quase impagável. Ao contrário porém, o preço é acessível aos que por algum motivo me despertasse alguma curiosidade ou fetiche. É óbvio que aqui não estou por necessidade. Diversos carros pararam e permaneci, já estimulada ao ponto de não precisar das carícias preliminares antes do ato. Até que um homem de uma média de 45 anos parou seu carro. Eu que estava sozinha e ao vê-lo, não disse uma palavra sequer, abri a porta do carro e entrei. A música que tocava não me agradou e como quem tem a intimidade de uma relação de anos troquei de estação, abri o vidro do carro e fechei os olhos. Ele sorriu e teve a sensibilidade de não interromper este momento tão sublime.

Se era bonito? Era lindo e quando a lua batia em seu rosto ele contornava com meio sorriso. Não era alto nem baixo demais. Não tinha muitas curvas nem poucas também. Ele tinha olhos de amêndoa, pela doce: algodão. Ele sabia dizer bobagens. Sua boca era fina, ágil, como em um galope. Seus cabelos, de pior marca e conduta, queriam passar certo despojamento. Em vão. Usava belos óculos, de bela armação. Mal sabia o nome que eu tinha naquele momento. Acho que para ele não importava. Pouco nos importa os nomes quando os sexos se endurecem. Mal sabia também minha idade e quando tentei, entre beijos, dizer que eu carregava 210 anos em minhas costas, ele calou minha boca e fez percorrer o meu corpo. Se ele era bonito? Era lindo e quando o sol bateu em seu rosto ele contornava com meio sorriso. Ele tinha acabado de fechar a porta quando me sentei. Ouvi seus passos no corredor, elevador e até que em um levantão fui até a janela acompanhar o seu caminhar. Até nunca mais, eu dizia baixinho, segurando entre as mãos a camisa que ele acabara de usar. Até nunca mais.

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