21 de novembro de 2008

Lívia, parte 3


Voltei para a casa pensando nas perguntas que ele havia me feito. Algumas pessoas insistem em conversar depois de transar. Pior, algumas pessoas sentem a estranha necessidade de filosofar enquanto eu quero pura e simplesmente dormir. Dá vontade de gritar: "Porra, eu acabei de ter um orgasmo, não fumo e não bebo, pode me deixar dormir em paz?". Minha religião não permite, retrocedi e respondi sua pergunta. Meu nome hoje é Lavínia, e inquieto dizia querer saber quem eu havia sido ontem. O ontem já passou, e amanhã não saberei dizer quem serei. Você sabe? "Quantos personagens habitam em você Lavínia?". Patético. Quantos forem necessários para viver todas as paixões que eu tiver vontade. Qualquer paixão me diverte. Adormeci e quando acordei vi o seu bater em seu rosto, ele ainda dormindo nem percebeu que eu o admirava.
Eu sou uma prostituta. Não faço por amor. Mas beijo na boca e durmo de conchinha com meu parceiro de uma noite. O pagamento é adiantado, assim como você paga antes de saber se o drink que está pedindo será gostoso. Faço porque qualquer paixão me diverte e eu realmente amo sentir o toque de mãos diferentes todos os dias em meu rosto, meu cabelo, minha cintura. Gosto de saber que não terei que dizer aonde, porque e com quem para ninguém. Aproveito o máximo do beijo, do gosto do sexo, das juras de amor que se perdem no vento. Eles dizem que vão me tirar dessa vida. Não vão. Se Deus quiser a gente nunca mais vai se encontrar e eu não precisarei fazer as vezes da sua mãe te cobrando a toalha em cima da cama, de sua irmã te pedindo para sair do computador. Fico contigo por uma noite e te faço acreditar que seu membro é a coisa mais incrível que já vi na vida. Que sua voz me arrepia. Talvez seja verdade. Talvez não. Talvez eu não tenha motivos pra fingir.
Volto para casa toda manhã e percebo que está tudo no lugar, meu corpo está satisfeito. Busco então conforto para minha alma.
Mas hoje, somente hoje, vou me dar ao luxo de ficar aqui deitadinha sem ouvir, sem falar, sem pensar. Me sinto protegida, úmida, limpa, confortável, em paz. Não quero dividir a fala, manter o tom, o tempo, a intenção e contar história. A cada dia faço a escolha certa para um jogo não tão certo assim. Hoje só não quero jogar.

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