20 de novembro de 2008

Hora de elaborar o luto - memórias de uma saudosista


Estamos quase chegando em 2009 e eu ainda possuo essa gestalt aberta. Naquele dia em que abandonei o meu trabalho para vir para Santa Catarina me matricular na faculdade - em uma escolha um tanto quanto alienada, mas correta - comecei a morrer um pouco em mim. Não me despedi de ninguém, dos amigos que me acompanharam na escola ou dos amigos dos meus 3 meses de farmácia. Havia a falsa ilusão de que era provisório. Eu voltaria quando terminasse a faculdade. 5 anos. As pessoas mudam em 1 mês, porque não mudariam em um ano? De onde tirei a idéia de que em 5 anos a amizade continuaria intacta como se tivesse sido congelada como sêmem pronto para ser utilizado quando bem entendesse? Quem disse que os valores não mudariam e tornariam impossível a convivência?
Eu me morri por não saber me viver em uma cidade desconhecida, como das muitas vezes em que tive que fazer e ao atingir o sucesso reviver todo esse processo. Hoje vejo o quanto fui resistente e o quanto me privei de viver uma vida mais agradável por estar presa ao passado. Estudar no Colégio Pedro II me traz muito orgulho, não por ter sido o primeiríssimo colégio brasileiro, no quintal da casa de Dom Pedro I, mas das pessoas que ali conheci e como disse Nelson Rodrigues, o aluno do Pedro II é
"o mau aluno (tomara que seja), mas que natureza cálida, que apetite vital, que ferocidade dionisíaca. "
Vou me recordar com carinho de quando bebemos vodka com coca-cola atrás do colégio e no dia seguinte a diretora procurar justamente a nós para prestar conta do ocorrido (e pegar dois ônibus para ir pra casa sozinha, deitar na cama e vomitar chocolate batom). Da divisão do recreio devido a bebedeira que quase ocasionou a morte da Aisha. Dos boatos de a Natasha ter dado na piscina que fazíamos natação. Do futebol das piranhas. De usar coturno ao invés de sapato de boneca. De ter tido minha primeira "experiência" com minhas melhores amigas. Das passeatas que eu tanto ajudei a agitar mas que nunca participei. Das andanças pelo Rio de Janeiro proporcionadas pelas 144 passagens disponibilizadas pelo governo, seguindo o lema "Quem tem Riocard Vai à Roma". Das aulas aos sábados que proporcionavam as idas ao shopping Nova América. E também quando cansamos de ir ao shopping e o trocamos para ir à Rua da Alfândega. Vocês lembram quando o Rubens pegou R$50,00 com seu pai e comprou praticamente TUDO de cordões de sementes, e ao chegar na escola foi barrado e argumentou que se fossem de ouro o deixariam entrar?
Tudo isso e muito mais vou guardar comigo como lembranças de um tempo bom que eu vivi com vocês: Amanda, Helaine, Jessica, Bianca, Rubens e Nara. Hoje vou abandonar o sentimento de tristeza que me acompanhou durante todo esse tempo. Vou lembrar com saudade, mas não vou contar (e espero que vocês também não) com a minha volta. Daqui a 2 anos e meio vou me tornar uma psicóloga e buscar meu caminho em outros lugares porque o passado não me pertence mais, este ficou lá atrás. A Nara vai ser uma veterinária realizada, Amanda a artista plástica e diretora de teatro, Helaine e Bianca serão historiadoras incríveis, Jessica vai fugir com o circo sendo a mais linda contorcionista e o Rubes vai enfim encontrar sua paz espiritual. E se calhar de nos encontrarmos novamente nesta caminhada, será lindo. Se não, nada mais há pra fazer.

PS.: Só tenho um último pedido: que nosso desejo do encontro de ex-alunos após 10 anos se realize, e se eu puder vou antes!

AMO VOCÊS e deixo-os livres.

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