4 de abril de 2009

Elabore o luto, viva e deixe viver

Nada mais natural que a morte, afinal tudo que tem um início, fatalmente terá um fim. Todos sabem disso, mas muitos preferem se enganar pensando que tudo é eterno. Um namoro, um casamento, um cachorro, um emprego, uma amizade, você mesmo. Perde-los nunca está no roteiro.

Mas vem a falta e esta falta pode trazer a dor do que não aceitamos e consequentemente traz também sofrimento. E por não aceitar, há luto. Enquanto a realidade nega o objeto de desejo, nós negamos que o nosso desejo foi negado pelo pela realidade, resultando em dor. Nos revoltamos contra a vida, a achamos injusta, e sofremos ainda mais.



A vida é um breve instante na eternidade, é imprescindível que seja bem vivido, do contrário, a vida seria um vazio sem sentido. Dentro de cada vida, muitas outras vidas se mostram presentes, vidas que a todo instante deixam de ser, deixam de existir, porque outras vidas estão à espera. E cada finalização dessas breves existências, trazem o luto e sua necessária elaboração. Isto nos possibilita o desapego, a libertação de uma das mortes de nossa vida, para que novas vidas possam nascer.
Há pessoas que quando não tem o objeto de desejo, desdenham-no. Falam mal. A fim de dar a entender a si próprio que o objeto de desejo é negado e isento de qualquer intenção de tê-lo para si. Assim como a o macaco que ao não conseguir pegar as bananas dizia que não as queria porque estavam podres. Essas pessoas cultivam sentimento de vingança pelo que o outro tem, se sentem injustiçados, se revoltam contra os bens dos outros, cultivam sentimentos de inveja e recalque. Tudo por não possuírem o que mais querem.

"Elaborar o luto é se libertar do desejo, quando ele não pode ser realizado."

A elaboração do luto é a ponte que nos leva da dor ao prazer. Luto é aprendizagem, é experiência.

Elaborar o luto é aceitar a realidade tal qual ela é. É viver com a ausência, com a perda, e buscar algo novo que possa o preencher.

Perder algo que amamos nos causa dor, isso nos tira a identidade, nos anula, e o gosto da morte permanece, porque é como se nós mesmos tivéssemos morrido. O pensamento que impera é que "eu só era alguma coisa porque tinha minha namorada, minha mãe, meu marido, meu emprego, meu carro, meu dinheiro". Perde-se a identidade, então nos sentimos sozinhos e enfraquecidos para aceitar, mesmo o que já era previsto.

Porém, tudo é uma questão de escolha: o sofrimento da perda do que um dia foi, o pesar por aquilo que nunca aconteceu, ou, a lembrança feliz do que foi, do amor que por um tempo preencheu nosso viver. À que se ter gratidão pelo passado.
Tenha gratidão pelo que aconteceu no passado e aceite que o que acabou, acabou. O que morreu, morreu. Permita-se outras vivências.

O trabalho de luto é aprender a dizer sim, tanto para a vida, quanto para a morte; para os ganhos e para as perdas.
Elabore o luto. Viva e principalmente, deixe viver.




PS.: Para assistir: O Quarto do Filho (2001)

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