Pode-se dizer que 9 entre 10 intelectuais desprezam e odeiam o miami bass, o famoso funk carioca. Desde pequena com acesso a MTV pude ver o funk ridicularizado, e exposto de uma forma onde todos condenavam as letras sem conteúdo, as rimas fracas, a erotização, os cantores, enfim, tudo que envolvesse o ritmo mais tocado na favela.
Mas algo mudou quando Mathangi Maya Arulpragasam, mais conhecida como M.I.A. e seu namorado, o DJ Diplo fizeram uma viagem ao incrível mundo suburbano do Rio de Janeiro e decidiram não só produzir diversos funks cariocas, mas também lançar o CD de M.I.A, intitulado Piracy Funds Terrorism. Engraçado como o brasileiro precisa de uma opinião de fora para dar valor ao que é produto nacional. Podemos observar este fenômeno hoje com o próprio samba, produto tipo exportação que muitos jovens que diziam não gostar e agora passam a gostar através de nomes como Maria Rita, Roberta Sá, Mart'nália. Voltando ao funk, pude observar a revolução cultural que M.I.A, nascida em Londres de família do Sri Lanka causou. Gravou a música Bucky Done Gun, com a base da música Injeção da Deise Tigrona e subiu ao palco do Tim Festival com a mesma em 2005. O funk passou a ter um espaço a mais na emissora, que até produziu um documentário sobre o ritmo.
O funk pode para muitas pessoas representar nada além de música sem conteúdo, ou para outros nem ser considerado "música". Porém, basta um olhar um pouquinho mais atento para compreender a diversidade músical, a plasticidade, a resiliência de uma população sofredora e que encontra seus próprios meios de diversão e subsistência, seus próprios medos de passar por cima das adversidades da vida, do medo de não saber se estará vivo amanhã e rir, se divertir e produzir seus próprios conteúdos. Você pode até dizer "-ahhh, os funks antigos é que eram bons, e não essa pouca vergonha que está aí". Meu caro, o tempo mudou, hoje o enfoque dado não é o de antes, e o funk assim como o rock, o pagode e até a própria MPB tem seu próprio modo de se adaptar a essas mudanças. O mundo caminha de tal forma que lança tendências que também o acompanha. Este não é um caminho traçado sozinho. O funk é sim explícito, caso você seja pudico, dirija-se a igreja mais próxima e se converta. O funk é música sim, de um povo que se expressa de forma criativa e tem sua própria forma de produzir cultura. A sua própria cultura. Queira ou não, isso é Brasil, não só Brasil, mas também Brasil. Não gosta? Se mude pra Inglaterra. Se você repudia a música, o ritmo, ou a letra, dê ao menos o valor merecido de um povo extremamente forte. Admiro M.I.A por ter conseguido trazer este novo olhar ao funk carioca, e abaixo, o clip Buck Done Gun, vale a pena dar uma conferida.
http://www.youtube.com/watch?v=YVX0sVMGCAo
19 de novembro de 2008
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Gostei da maneira como você falou de M.I.A. e como ela conseguiu dar uma nova visão do funk carioca! É mesmo, cara, sinto isso mesmo quando escuto a música dela! Engraçado como o gênero acabou sendo falado em tudo que é sítio de escrita web. Olha um exemplo
ResponderExcluirhttp://cotonete.clix.pt/quiosque/especiais/funk_carioca/index.asp
Uma coisa boa que os caras fizeram também foi programarem uma rádio que só toca funk carioca! :)