28 de janeiro de 2009

Saindo de relacionamentos vida nova velhos vícios - Parte 1.

Me reuní dia desses com uma amiga que há muito não via. Aquele papo de sempre e acabamos caindo nos relacionamentos. Dizia ela que não tinha jeito para o amor. E será que tem jeito? Ela dizia que por mais que variasse no cardápio masculino, sempre acabava se relacionando com o mesmo tipo de cara. Com alguma ou outra variação, com alguma ou outra intensidade, redondos ou triangulares, eram sempre quadrados. Não me surpreendi nada, nada, escolhemos quase sempre o mesmo perfil afetivo para namorar.

Uma vez estava no show do O Rappa, num domingo, e avistei um cara super estiloso (não, eu nunca vou pela beleza). Me interessei e consegui um jeito de abordá-lo. Ele me deu seu telefone e liguei durante a semana para saírmos. Iria ligar na quinta-feira, pra dar aquele ar de mistério inútil, mas ansiosa que sou liguei na terça e o convidei para ir ao Teatro assistir uma peça raríssima estrelada pela Fernanda Montenegro.

Nos encontramos no local da peça, após a peça, pois o babaca perdeu a hora e eu assisti ao espetáculo sozinha. Fazia um pouco de frio e comentei: "nossa, tá frio hein", na intenção de que ele me abraçasse e já rolasse o beijo. Tudo milimetricamente planejado. Sabe como é primeiro encontro, cada um ressaltando o que tem de melhor de si, aquilo que o outro vai se surpreender e ao mesmo tempo agradar. Ele, que vamos chamar aqui de Cláussio, era um ativista social. Possui uma banda de rock/rap, um tipo de plágio de Rage Against The Machine misturado com O Rappa.

Sabe aqueles loucos revolucionários? Ele era bem assim. Acreditava que um dia, através da sua música e de suas palavras iria alcançar a igualdade social. A sua música seria veículo de manifestação para atingir as autoridades máximas sobre as mazelas do povo. Ele era uma mistura de Che Guevara com Zapata, mas em sua forma mais exacerbada.

Era legal namorar um carinha assim, diferente, que pensa no futuro do povo. Legal? O cara era insuportável. Não tinha outro assunto a não ser a fome em tal lugar, a desigualdade em outro, a pobreza ali não sei onde. Coisas que todo mundo sabe, coisas que todo mundo se choca. Mas uma coisa é emoção e outra coisa é sentimento. É possível ter sentimento sem se emocionar, e se emocionar sem ter sentimento.

E a gente se emociona ao ver as calamidades desse mundo, mas não é por isso que vamos sair por aí na intenção de sequestrar a Juliana Paes, raspar sua cabeça e dar-lhe um choque de realidade para que a mesma use seu poder de influência na mídia para voltar os olhos da sociedade para o sofrimento de milhões. Aliás, nisso ele se empenhava muito. Não precisava de um emprego, ou de estudo. O que ele mais despejava suas forças eram nessas idéias de sequestrar gente influente no maior estilo V de Vingança.

Sua maior vontade era fazer um show durante um comício eleitoral, denunciando e protestando contra as mentiras dos políticos. Tinha a ilusão de que as pessoas sairiam do comício para ouvir o que ele tinha a dizer. Por falar em ilusão, talvez ele não soubesse que a polícia tiraria ele de lá antes mesmo do baterista contar "1,2,3!". Mas tenho a impressão de que já vi alguém fazer isso em algum lugar. Ah, sim, o Zack de La Rocha, vocalista do RATM teve essa idéia primeiro e já pôs em prática. O nosso querido Claussio parece meio copião, não é mesmo?

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